quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O Fruto do Futuro - O primeiro

O Fruto do Futuro:
I - O Primeiro
II - O cordel, a semente e os peixes.

Todos conheciam ele como Zé Moeda. Passava o dia pelas ruas jogando moedas no chão, como que pra advinhar o que estava por vir.
Não bebia como a maior parte de seus comapnheiros e era um mistério como ele nunca se alimentava.
Era um tipo tranqüilo e, não fossem as suas excentricidades, os outros até arriscariam dizer que gostavam dele. Para ganhar alguns trocos (ou quem sabe por prazer próprio) tocava uma flauta doce. Os cães da rua apreciavam a sua companhia, e estava sempre cercado por eles.
Ele também carregava uma mala cheia de livros, e entquanto os outros dormiam ele lia.
Muitos se tornaram confidentes, pedindo conselhos ou somente desabafando sobre as injúrias da vida. Ele em pouco tempo se tornou uma espécie de padre dos excluídos.
Ele também, apesar dos andrajos, andava limpo, com unhas aparadas e cabelos e barba compridos, mas alinhados.
Vagava pelas praças e albergues, ouvia histórias, ajudava as pessoas e apartava brigas.
Era uma figura que expirava paz no meio de um lugar esquecido pelo mundo. "Vai passar" ele costumava dizer para as crianças.
Há muito eu o procurava pelas ruas. Mas no fim das contas foi ele que me encontrou.

Estava certa vez, tarde da noite voltando pra casa quando ouvi alguém chamar o meu nome e me virei.
Lá estava ele como haviam me descrito. De pronto me perguntou:

- Por que você me procura?

- Ouvi dizer que você tem a resposta para o meu problema.

- E qual o seu problema?

- Sou infeliz. Estudei, ganhei dinheiro, conheci pessoas e fiz amigos a minha vida toda. Mas a luz me veio na semana passada, como alguém que pula o muro, e tudo deixou de fazer sentido.

- Então você descobriu?

- Sim. Vi a verdade, e ela me deixou confuso.

- É realmente assustador quando você percebe que esteve tudo sempre muito claro debaixo do nariz.

- Eu não sei o que fazer - eu sinto que posso fazer tudo. Sinto que posso mudar o mundo, como se uma grande missão me tivesse sido dada, mas não sei por onde começar...

- E nós podemos. Você agora é um dos chamados, assim como eu.

- Como assim?

- Eu sou o primeiro. Você é o décimo. Estamos nos espalhando. Quem diria que tudo começaria com um mendigo...

- Eu jamais imaginei...

- Mas é desse tipo de paradoxos que a vida é feita. As pessoas não tem mais tempo. Nós não, nós temos todo tempo que queremos. Não somos escravos de nada. Às vezes penso que é por isso que fui escolhido como primeiro.

- Virão outros?

- Sim, eu sinto que virão, mas precisamos continuar plantando as sementes. - Ele me deu um sorriso e colocou algo na minha mão. Sorrindo completou - esse é o começo de um novo mundo. Há muita gente contra isso. Mas temos que tentar.

Abri a mão e vi uma semente muito pequena. Nela estava escrito futuro. Procurei por ele, mas já tinha desaparecido.

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