sábado, 24 de maio de 2008

Pedro e Luzia

Luzia achava que amava Pedro.
Pedro amava Luzia.

Luzia estava cheia.
Pedro amava Luzia

Luzia desanimou.
Pedro amava Luzia.

Luzia gritou.
Pedro partiu amando Luzia.

Luzia chorou.
Pedro embarcou amando Luzia.

Luzia sentiu saudade.
Pedro soluçou amando Luzia

Luzia supirou amando Pedro
Pedro quase naufragou olhando a foto de Luzia.

Luzia cultivou o amor solitário.
Pedro esqueceu o amor não correspondido.

Luzia estava cada dia mais apaixonada.
Pedro estava cada dia mais vazio.

Luzia esperou Pedro.
Pedro não voltou.

Luzia amava Pedro.
Pedro não amava mais Luzia.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Tragédia Grega


Olhamos e no olhar
Unimos nossas almas
desafiamos a lógica
e gritamos aos deuses
que se calassem diante
de nossos beijos de amor

Eles loucos gritaram
ante a nossa heresia
e de todos os lados
os ventos dessa ira
sopraram nossas máscaras
e nos encheram de dor

Esquecemos do olhar
nas palavras lutamos
na personalidade do outro
nos perdemos do começo
despencamos no final
frio, feio e sem cor

terça-feira, 20 de maio de 2008

A Curva do Metrô


Silvio estava numa crise de criatividade. Ele precisava escrever o seu próximo livro, mas não conseguia pensar em nada bom. Andava de metrô com seu filho Silvinho porque o menino queria ir no shopping.

- Pai, onde é a curva do metrô?

Silvio tinha problemas com as perguntas do filho. Silvinho tinha 6 anos e estava naquela época da vida em que as que as dúvidas seguem decobertas, e essas por sua vez seguem mais dúvidas, e não se tem medo de perguntar.

- Como assim meu filho?

- Curva do metrô pai! O metrô não vai e depois volta?

- Sim Silvinho.

- Então, ele não tem que fazer uma curva pra voltar?

Silvio ainda estava digerindo seu problema na mente e resolveu que teria que eliminar de forma rápida a dúvida do filho para poder voltar a pensar.

- O metrô anda pros dois lados filho. Ele não precisa fazer curva pra voltar. O condutor do metrô vai pra outra ponta do metrô e ele começa a andar pro outro lado.

- Ah tá. – Respondeu Silvinho olhando pra janela do metrô emburrado.

Silvio percebeu um ar de decepção do menino. Tentando entender o que na resposta dele tinha magoado o menino pergunta:

- Que foi filhão? O pai falou alguma coisa de errado?

- Não pai, é que a curva do metrô parecia ser um lugar tão legal.

Um ano mais tarde Silvio lançou um livro infantil chamado “As Histórias da Curva do Metrô.”

Conto de Um Encontro


Eles se encontram.

Ela pensa. Ele está atrasado. Eu odeio quando ele se atrasa porque ele não tem motivos pra se atrasar. Quando será que ele vai tomar jeito?

Ela pensa. Eu detesto essa calça e além disso o tênis dele está sujo. Poxa, será que custa limpar o tênis pra sair comigo? E essa calça, eu vou procurar um bom momento pra comentar da calça dele.

Ele sorri. Ela sorri de volta.

Ela pensa. Droga, será que deu pra reparar que eu não passei delineador hoje? Ah, ele é um insensível que não repara em nada, ele nem vai reparar que eu não passei o delineador.

Ela pensa. Desgraçado! Olhou a bunda da menina que passou! E daí que eu não tenho uma bunda que nem a dela? Pelo menos teve a decência de disfarçar. Nem sei porque eu estou com ele!

Ela pensa. Ele vestiu a camiseta que eu dei de presente pra ele. Pelo menos uma bola dentro ele tinha que dar. Ai meu, eu não acredito que ele tá com esse chapéu que eu odeio! Definitivamente ele não sabe se vestir. Definitivamente eu não sei porque eu ainda estou com ele.

Ela pensa. Ainda por cima tem aquele recado que a menina deixou para ele na internet. Ele não percebe que ela está dando em cima dele? Acho que ele percebe e finge que não tem nada! Eles gostam dessas meninas que ficam paparicando eles.

Ela pensa. Droga, quinze minutos atrasado. Acho que vamos perder o começo da peça. Eu odeio Nelson Rodrigues. Não queria ver essa peça. Mas ele insistiu tanto. Não sei mesmo porque estou com ele. O pior de além de insistir na peça que eu não queria ver ainda chega atrasado!

Ela ainda pensa em mais um bocado de coisas no espaço de tempo entre avistá-lo e encontrá-lo.

Ele pensa. Ela deve estar brava com o atraso, mas ela está linda.

Ela não diz nada.

Ele diz boa noite.

Ele pensa. Eu amo essa menina.

Então eles se abraçam e por um instante não pensam em nada.