segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sobre os Professores

O velho aluno e em breve novo mestre entra na sala escura. Seu mestre o espera na cama em que a morte o espera.
O aluno respeitosamente se ajoelha ao lado do mestre. Em breve ele devrá ensinar os jovens do templo.

Com dificuldade o mestre pergunta:

- O que você aprendeu comigo, aluno?

O aluno humildemente responde:

- Tudo meu mestre. Tudo que sei aprendi contigo, desde que era apenas uma criança!

O rosto do velho mestre se mostra um tanto quanto decepcionado. Ele diz:

- Não aluno. Você não aprendeu nada comigo.

O aluno consternado responde:

- Você quer dizer que eu fui um mau aluno?

- Claro que não, se não fosse bom aluno, e se eu não o julgasse bom mestre, jamais te escolheria como meu sucessor. Mas o que estou a dizer é que não aprendeste comigo.

- Não compreendo mestre.

Segurando o braço do aluno o mestre responde:

- Receba minha última lição. Um mestre não pode ensinar. Ele pode só pedir que o seu aluno perceba que o que está dentro dele é maior do que ele pensava.

Em silêncio o aluno sai da sala, agora como mestre.

Sobre os Amigos

Quem gostar de postura boa
Vai agora ter que parar de ler,
Ou se decidir continuar
Vai ter então que me desculpar
Mas amigo não é coisa pra se guardar
Como já falava a canção
Mas amigo é coisa pra se levar
e pra se Mostrar
dentro e fora do coração

É não ter medo de parecer besta
e nem se preocupar com a besteira deles.
Agir ao natural, com ou sem roupa
Estar entre irmãos
De diferentes pais e mães.

É estar com amantes, colegas
Afetos, parceiros, cúmplices.

É rir e chorar quando der vontade.
É reclamar do que não te agrada.
É um comprometimento
Sem se comprometer.

Ser feliz depende de ter bons amigos
De preferência poucos.

É bom também ter aquela amiga
Que te troca um olhar
Em que se sente o prazer de flertar.
Aquela diferente, especial,
Que te faz sentir vivo,
Desejado e desejando.
Se possível for ter aquele momento
De consumar na carne
Aquele velho e bom desejo humano...

E sem vergonha, pois a vergonha sim é que é pecado.

Conversar até perder o fio da meada
Quando o sono ganhar a batalha
E depois acordar e tomar café
Falando da Xuxa e do Pelé,
Ou da metafísica da fé
E qualquer outro assunto
Que por mais besta que seja
Está entre amigos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

E aí?

Não estou aqui
Se estiver alguma coisa
Estou nem aí
nem lá.

Se querem saber,
estou onde eu quero
que é quase onde devo
mesmo quando tenho que ir.

Se quiser me seguir
vai chegar
onde não se é pra estar.

Então me deixa aqui
Onde eu não estou.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Sobre Dionísio e Apolo

Roupas no chão, cama desarrumada. Ele sobre a cama equanto o Robert Plant grita no rádio. O resto do vinho divide lugar com o cinzeiro cheio. O som do teclado divide o ar com as batidas da bateria. Um rompante criativo, uma possessão - pois é o que parece - o faz escrever com a velocidade dos seus pensamentos. Atos, personagens, lugares. Num instante tudo está sobre tela, no arquivo, no e-mail, na sala do produtor. Um último gole do vinho, um último trago no cigarro.

Terno e gravata. Cara de sério. Ar de superior. Entra da sala impecável, impecável como a sala. Sua fala é perfeita e o hálito é de menta. Até que os anos na faculdade lhe serviram de algo. O produtor é sinteticamente expansivo. Gestos medidos. Tudo no seu lugar. Ele senta em frente ao produtor e começa o discurso correto, ensaiado em casa. O produtor diz que gostou muito do texto e tudo mais.Sorrisos medidos, palavras medidas, drink recusado, contrato fechado.

É preciso adaptar a coisa toda. De novo caos, vinho e cigarros. Loucura, brigas e sexo. Alegria e choro. Drama. Revisão. Inspiração. Reescrever exige além da inspiração original, uma nova inspiração mais arrojada. Possessão, teclas e rock. Texto, arquivo, e-mail, aprovação.

Hora de pedir dinheiro, escolher ator, diretor, iluminador. Local, ingresso, cachê. Divulgação. revista, televisão. Dívida, empréstimo, problema. Gráficos e mais gráficos além das pesquisas e relatórios. E-mails, réplicas e tréplicas. Chuva, fogo, frio e calor. Estreia, release, coquetel, festa. Ensaio, ensaio, ensaio. Figurino, ensaio.

As cortinas se abrem e a sombra de tudo se esvai. Casa cheia e aplausos. Delírio, possessão de todos. Espetáculo, palmas, vinho e cigarro.