terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Sobre Dionísio e Apolo

Roupas no chão, cama desarrumada. Ele sobre a cama equanto o Robert Plant grita no rádio. O resto do vinho divide lugar com o cinzeiro cheio. O som do teclado divide o ar com as batidas da bateria. Um rompante criativo, uma possessão - pois é o que parece - o faz escrever com a velocidade dos seus pensamentos. Atos, personagens, lugares. Num instante tudo está sobre tela, no arquivo, no e-mail, na sala do produtor. Um último gole do vinho, um último trago no cigarro.

Terno e gravata. Cara de sério. Ar de superior. Entra da sala impecável, impecável como a sala. Sua fala é perfeita e o hálito é de menta. Até que os anos na faculdade lhe serviram de algo. O produtor é sinteticamente expansivo. Gestos medidos. Tudo no seu lugar. Ele senta em frente ao produtor e começa o discurso correto, ensaiado em casa. O produtor diz que gostou muito do texto e tudo mais.Sorrisos medidos, palavras medidas, drink recusado, contrato fechado.

É preciso adaptar a coisa toda. De novo caos, vinho e cigarros. Loucura, brigas e sexo. Alegria e choro. Drama. Revisão. Inspiração. Reescrever exige além da inspiração original, uma nova inspiração mais arrojada. Possessão, teclas e rock. Texto, arquivo, e-mail, aprovação.

Hora de pedir dinheiro, escolher ator, diretor, iluminador. Local, ingresso, cachê. Divulgação. revista, televisão. Dívida, empréstimo, problema. Gráficos e mais gráficos além das pesquisas e relatórios. E-mails, réplicas e tréplicas. Chuva, fogo, frio e calor. Estreia, release, coquetel, festa. Ensaio, ensaio, ensaio. Figurino, ensaio.

As cortinas se abrem e a sombra de tudo se esvai. Casa cheia e aplausos. Delírio, possessão de todos. Espetáculo, palmas, vinho e cigarro.

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