segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Escreveu, não leu...


Vivemos num mundo de pessoas que não sabem ler.
Isso pode até parecer estranho de um veículo de mídia escrita, mas é uma grande verdade. Não falo de pessoas que realmente não conseguem decifrar os símbolos da escrita, mas sim das pessoas que não conseguem decifrar os pensamentos por trás da escrita.
Me lembro de quando aprendi a ler. Não quando me ensinaram as letras e o Be-A-Bá. Eu digo de quando eu realmente li algo e entendi. Um livro que me fez sentir dentro da história.
Por volta dos meus dez anos ganhei da minhã irmã um exemplar de A Ilha do Tesouro de Louis Stevenson. Era um livro já antigo, exemplar de professor.
Num primeiro momento deixei ele de lado e voltei minha atenção pra outras coisas que eu julgava mais importantes.Não que eu nunca tivesse lido até lá. Li várias coisas e lia de tudo. Tinha até ensaiado o que eles chamavam na minha igreja de ano bíblico juvenil (mas ler a Bíblia inteira, ou quase isso era realmente de mais pra alguém que não sabia ler - e pensar que centenas de pessoas hoje lêem a Bíblia sem saber ler.), mas nunca tinha lido algo "de verdade".Comecei a ler A Ilha do Tesouro no caminho pra praia. Acho que o cheiro do mar me inspirou de forma que eu conseguia me sentir participante da história.
Todos aqueles barcos, e o forte, e as batalhas. Li num dia só, como se existisse algum tipo de feitiço no livro. Li tão vorazmente que me esqueci da praia, do sol e até que estava com fome. As palavras me alimentaram.
Quando terminei de ler, sonhei em um dia escrever coisas legais como aquela.
Depois de Stevenson foi um caminho sem volta por entre Dostoiévskis e Kafkas.
Minha fome por palavras era tão grande que lia qualquer besteira que encontrava. Finalmente conseguia ler a Bíblia e entender.E aí as palavras vieram até mim. Percebi a linguagem escrita usada para comunicação.
Através da leitura me veio a escrita. Eu lia e pensava. Agora podia pensar e escrever, para que outros lessem e pensassem.Aos poucos comecei a esboçar. Percebi que quanto mais eu lia, mais eu conseguia escrever. Era como se eu me alimentasse e digerisse. E do alimento obtivesse a energia para poder produzir alimento.
Não sou nem a unha do dedo mindinho do pé esquerdo de Stevenson. Ainda muitas coisas me são desconhecidas, e acabo no fim escrevendo mais sobre as dúvidas no caminnho do esclarecimento que sobre as conclusões que por ventura eu acabo chegando (mesmo porque as conclusões são perigosas).
Mas escrever e ler é um prazer, às vezes maior para quem escreve e às vezes maior para quem lê. Mas só quem escreve e lê sabe como é...

Um comentário:

"Cris" Mimar e Adocicar disse...

Ai como esse meu mundo é confuso!
Acho que quanto mais leio, menos escrevo...