quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Pense nas cicatrizes...



Pense nas cicatrizes...
Têm cheiro de barro e de bola de couro desfiada, bicicleta com corrente quebrada.
Uma queda na grama, uma topada, subida, escalada em limoeiro, pé de laranjeira, laranja da vitória, tem cheiro de galho, de esconderijo. Tem cheiro de pega-pega com vento madrigal escolar no rosto, tem cheiro de muro, bolinha de gude gelada.

E nas cores das cicatrizes? Chinelo azul havaiana, cinto marrom fivela prateada, cinza asfalto, incolor cerol, ferrugem cerca farpada do vizinho, verde musgo escorregão na pedra, vermelho sangue do nariz...

E quão estranhas são as cicatrizes invisíveis, elas não possuem cores, e quase nunca tem odores próprios, somente melodias tristes, e como podem então marcar muito mais?

As vezes essas cicatrizes surgem sem esforços, sem escaladas triunfais, sem espancamentos ou coisas assim... E sutilmente essas cicatrizes nos impedem de varias aventuras, de varias conquistas...

E por isso que ainda hoje corro na chuva, pulo corda imaginaria, puxo rabo de gato, aborreço crianças com dentes afiados, ando com o cadarço desamarrado, fecho os olhos quando pedalo, e discuto com bandido...

Mas não revelo sentimentos, e escondo a sete chaves meus pensamentos.

Tudo para poupar o triunfo de cicatrizes invisíveis...

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