segunda-feira, 30 de julho de 2007

Ensaio 1

Esse é um ensaio que eu escrevi há algum tempo. Espero que gostem (porque nem foi revisado ainda!!!)

A tarde se arrastava interminável e Flávio terminou de ler o décimo livro do mês enquanto ouvia pela décima vez Singles Vol. 1 do Smiths. Sua mãe orgulhosa sempre contava para as suas amigas que seu filho era culto e lia mais de dez livros por mês.
Na verdade, nesse momento Flávio sentia um tédio irremediável. O seu telefone tocava mas ele não tinha dinheiro pra sair. Assistira pelo menos uma centena de filmes e lera outra centena de livros. Sua cabeça estava doendo e nada lhe despertava o interesse. Então procurou em seu quarto, sedento por algo que lhe preenchesse a vida, pelo símbolo maior do poder moderno (não, não o dinheiro, pois isso ele não tinha já que estava desempregado há três meses) e encostando seu dedo no círculo vermelho no topo do sagrado artefato, ligou a TV.
Gil, Chaves, bunda, futebol, fofoca, produto milagroso, bunda, música de quinta, padre, pastor, música de quinta, pastor, música de quinta com bunda, música de quinta com pastor e bunda. É, talvez não fosse boa idéia mesmo ligar a TV.
Flávio sabia que os Domingos eram assim, e isso o deprimia. Só o consolava o fato de saber que pelo menos no Domingo outros milhões compartilhavam seu tédio. Pelo menos não estava com ressaca. Bom, antes estivesse, pelo menos teria algo que lembrar (ou não lembrar) do dia anterior.
Acabou o CD. Smiths é triste, e definitivamente ele não está triste. Está melancólico, e o dia também não está quente (pois segundo sua crença Smiths é para dias quentes, mesmo não fazendo calor na Inglaterra) e resolve colocar algo melancólico mais adaptado ao frio tropical. A voz fina de Tom York invade o quarto. Ele olha a sua volta e procura mais um livro pra tentar espantar o tédio já que Marvin havia morrido junto com Douglas Adams e as viagens espaciais dos seus momentos ociosos haviam terminado. Percebe então que não tinha nenhum livro novo. Procura na pilha por algum livro que talvez ele quisesse ler de novo.
Parecia pra ele ridículo num mundo de bilhões de habitantes, milhares de religiões, centenas de países, dúzias de lugares legais pra ir e dezenas de amigos, que ele buscasse conforto numa pilha de livros que ele já leu. Após um instante de dolorosa reflexão lhe vem a solução para os seus problemas. Iria a algum lugar onde pudesse comprar um livro novo.
Mas como iria se não tinha dinheiro? Precisava de dinheiro, assim como todos sempre precisam independente de quanto dinheiro tenham. Leu uma vez num livro do John Steinbeck que dinheiro atrai mais dinheiro. Agora que tinha uma dica, já tinha por onde começar, mas como conseguiria dinheiro se não tinha dinheiro?
Se deitou de novo na sua cama. Começou a arquitetar um plano. Faria uma empresa. Pegaria um empréstimo gordo e começaria uma empresa que emprestasse dinheiro para outras pessoas. Assim outras pessoas também teriam como atrair mais dinheiro. Assim ele atrairia dinheiro para ele também. Mas sem dúvida alguém só emprestaria dinheiro para ele se aquele dinheiro lhe fosse atrair mais dinheiro. Deve haver alguém realmente rico no topo disso tudo. O supremo imã atrator de dinheiro.
Mas definitivamente não deveria ser uma boa idéia, afinal ele teria que contratar pessoas: um contador, consultoria, pagar impostos e quem sabe propinas, depois fiança pra sair da cadeia além do advogado... Desse jeito não sobraria dinheiro para ele comprar o livro.
Então surgiu-lhe uma idéia fantástica na mente. Procuraria emprego.
Como não pensara nisso antes! Sua mãe já lhe tinha dito algo a respeito disso. Mas como aquelas coisas que as mães dizem sempre e a gente acaba anotando em “coisas a fazer para deixar minha mãe feliz”, ele deixou pra lá.
Só que agora surgira uma necessidade urgente! Precisava realmente de um livro novo e um emprego seria sua salvação. Esse pensamento que ele tirou da caixinha “coisas para o futuro” trouxe consigo várias outras coisas que ele fizera questão de esquecer apesar dos seus vinte anos, como faculdade, carreira, bens, projetos e casamento. Esse último especialmente lhe irritava profundamente e ele fez questão de devolver à caixinha.
Decidido com aquela certeza que só aparece uma vez a cada semestre (geralmente na época das provas finais ou recuperação) Flávio decidiu que na manhã da segunda-feira procuraria um emprego.
Tom York falava sobre imitações de árvores de plástico quando ele começa a traçar seu plano para procurar emprego. Ele não sabia bem por que, mas desde pequeno sempre traçava um plano para tudo que resolvia fazer. Dessa vez não seria diferente. Acertou o relógio para despertar às sete da manhã e procurou uma roupa interessante para se procurar emprego. Ele pensou em vestir algo social, mas achou que daria muito na cara que estava procurando emprego, e resolveu escolher uma boa calça jeans e camiseta para passar despercebido.
Bom, boa parte de seus problemas estavam acabados. Mas agora que ele já tinha o que vestir para procurar emprego, vários perguntas pularam em “pop-up” na sua mente: Primeiro, onde ele iria procurar emprego. Segundo, Que tipo de emprego ele estava procurando. Terceiro, seguindo a ordem lógica inversa (que era mais ou menos como a sua mente funcionava), o que ele sabia fazer. Mas a pergunta mais terrível foi: e se ele de fato conseguisse arranjar um emprego?
Neste momento o seu telefone toca. Ele atende a ligação que vai mudar a sua vida.

Em breve mais aventuras de Flávio... Aguardem!

Um comentário:

Anônimo disse...

Pena que desistiu do seu plano de Usura...
Vamos prosseguir com as ligações...