sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Achintya-Bheda-Abheda

Vivemos na busca incessante de nos sentirmos completos. A mídia nos promete de todas as formas com os mais diversos produtos a complementação de nosso ser incompleto. As religiões nos prometem a vida plena com Deus. As drogas nos fazem sentir o todo sem filtros na busca por sermos completos. Uma carreira de sucesso ou fama nos dá a ilusão que alcançamos a plenitude. Mas quanto mais procuramos coisas para preencher esse pedaço que falta, menos as coisas parecem fazer sentido.

Já imaginou uma vida plena, completa, estavelmente feliz e segura?
Já imaginou se em um determinado momento você alcançasse tudo o que você quer?
Já imaginou viver sem metas, sem objetivos, sem buscas e sem caminhos?

A vida, por mais que nos pareça um terrível acidente estatístico, me parece incrivelmente inteligente em determinados aspectos. O fato de jamais nos sentirmos completos nos impulsiona cada vez mais pra frente. Se estamos constantemente insatisfeitos, estamos ao mesmo tempo constantemente buscando algo que nos satisfaça. Essa busca move o mundo.

É um erro acharmos que por não conseguirmos alcançar algo devemos jogá-lo de lado. Cada vez que fazemos isso reduzimos o nosso caminho, e fica mais fácil nos tornarmos estáticos. Num mundo em constante movimento o que está estático tende ao degredo.

Querer tudo, mesmo que não se possa ter tudo é algo de extrema sabedoria se feito da forma correta. A única forma de se ter tudo é abdicar do direito de ter as coisas e se tornar assim parte deste todo, de forma que o todo o tenha, e mesmo o todo sendo algo infinito, caiba em você.
Aí percebemos a importância de sermos incompletos. Isso cria a necessidade de estarmos em contato constante com os outros incompletos como nós. Seres que assim como nós voam em busca da estrela inalcançável. Nisso fazemos o mundo nos movimentar e vivemos experiências que valorizam o efêmero viver.

Sentir tudo de todas as maneiras
Ter todas as opiniões,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito,
E amar as coisas como Deus.

Achintya-Bheda-Abheda é o conceito da unidade na multiplicidade. Que as coisas como um todo são completas ainda que individualmente sejam coisas incompletas, como peças de um grande quebra-cabeça. Estamos ligados a cada ser neste mundo, ainda que não queiramos.

Somos incompletos e isso faz da vida algo, que de tão interessante nos faz sofrer na busca do "ser completo". Tão interessante que nos faz sentir saudade. Tão interessante que nos faz buscar a cada segundo, algo que já está dentro de nós.

Namastê.

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