terça-feira, 14 de agosto de 2007

Futepolítica



Um dia acordei e estava estampado em todos os jornais. O futebol tomou o poder!
Tentamos a família e não funcionou. Tentamos a religião e não funcionou. Fomos para a ditadura e não funcionou. Corremos para os partidos, mas também não funcionou. Apelamos aos sindicatos e depois às empresas. Nova falha.
Nos restou a expressão máxima e imutável da brasilidade. O sete de setembro não, porque o grito já virou sussurro faz tempo. Podia até ser o carnaval, mas como o outro símbolo nacional, a caipirinha, anulava qualquer chance de planejamento, este ficou fora de cogitação.
Sobrou o futebol. Nada despertava maior paixão. Nada fazia os sentidos ficarem mais despertos. Nada unia mais as famílias e vizinhos (e também separava). Colocava o país inteiro sob suas cores e fazia de cada cidadão um especialista no assunto.
É claro que havia aquela minoria que não entendia nada do assunto. Mas pela primeira vez a massa dominava o conhecimento. Sabiam de estratégia e tática. Eram milhões de pessoas engajadas.
Ao invés das fatídicas eleições, o campeonato brasleiro. Cada um levaria para a urna, agora o estádio, as cores do seu partido, agora chamado de time.
E uma vez a cada quatro anos todo o poderio militar da nação iria para o seu maior desafio. A guerra da copa do mundo.
Nas escolas dezenas de milhões de alunos em formação. O país teria milhões de catedráticos, antes chamados de craques. As crianças passariam o tempo livre "estudando", até mesmo quando jogavam video-game.
Agora nossa fonte principal de renda seria a exportação de jogadores. A máxima da campanha de Bronco para presidência finalmente seria seguida! "Vamos plantar mais grama para que possam nascer mais craques!"
Se houvesse corrupção, a própria torcida, quer dizer, o povo, iria reclamar na porta dos dirigentes.
Os estádios então seriam o veredito sobre aprovação ou não.
A fidelidade ao país seria inabalável. Conheço sujeitos que deixaram a família, a religião, o trabalho, o partido, mas jamais deixaram a camisa de seu clube!
Feliz, como bom cidadão de um país onde o futebol manda, ponho a camisa e vou ao estádio, mas quando chego lá o que vejo são 50 marmanjos "partidários" se pegando na porrada, um futebol de quinta no campo enquanto um cartola conta dinheiro na sede do clube. Nas casas as pessoas vêem tudo pela televisão.
Respiro fundo e penso "não adianta, por aqui nada muda".

Um comentário:

Francis J. Leech disse...

futebol me deprime. Eu até tentei gostar na adolescência pela necessidade de ser aceito pelo grupo (hehehe), mas não durou mais que uns três meses. De brasileiro eu só tenho o RG e o CPF mesmo. Até porque um dos meus lemas é: se mais de três pessoas estão fazendo, deve estar errado.