sábado, 27 de julho de 2013

De Baudelaire

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.Me embriaguei de amor, como George Gordon Byron disse '''Nada escrevi que prestasse até que comecei a amar'. Auto julgamento, mas quem há de ser mais critico e censurista  do que eu, que me odeio e que me amo, por virtudes desatentas e desqualidades hipócritas e arcaicas.

Vi em uma pessoa toda a natureza, com todos seus fenômenos,  como pode caber em um ser o mar, o ar, o fogo que em mim arde, as estrelas, o verde, o azul, a calmaria e a tempestade, como pode nem ela saber da sua integração com o universo, dela ser terra, fértil  viril, produtiva em vários sentidos.
Mais que a natureza, fui amar alguém próximo, que se não fosse absurdo diria ao olhar pra ele que amo a mim mesmo, como se eu fosse ele, porque nós somos eu e ele. Há nele um eu, que nunca haverá eu nele. Eu o entendo, ele quer me entender. Toma um fósforo. Acende teu cigarro!O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. O que é um homem sem desejo, senão um amigo.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Filhos e o Desnatal - Essa Cultura há de Degringolar




Meia Noite, Fogos de artificios abraços, beijos surgem como bala perdida, me acertam, e eu nem sei de quem são, de onde vieram. Desconhecidos empregando a fraternidade Natalina, o falso carinho ao semelhante. O bom dia que esperei o ano inteiro de vizinhos que olham pro chão, hoje a noite findaram meus olhos como se fossem meus irmãos.

Apenas um abraço me resgatou de tudo isso, me resgatou da obrigação cultural da mesa farta, da roupa nova, da oração, da familia que não se fala, fui resgatada do gordo papai noel capitalista e moralista, papai noel industrial suas cores e suas coca-colas, da barba, da imagem fria, do chester e de todos outros aterfatos que ostentam e ofuscam a pobreza (fisica/espiritual/sentimental). 

Meus filhos, filhas que ainda não tenho, como pensei neles, e na virtuosa batalha que eu e meu marido vamos ter que empregar para degringolar essa cultura festiva em nossa casa. Silênciar e acalmar com verdades, a gritaria desta gente enganada pelo consumismo imposto nas midias. 

Lutar contra a massa, contra o sistema, sem pesar, sem destruir sonhos e fantasias infantis, deloscar e fazer novos contos para embalar sonos, para abrir sorrisos nas bocas e nos olhos, dar aos meus filhos a infância que eles precisam para serem crianças.

E se um dia disserem ao meus filhos "feliz Natal" eles poderam dizer "Sou feliz todos os dias, e papai noel não existe".










segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sobre os Professores

O velho aluno e em breve novo mestre entra na sala escura. Seu mestre o espera na cama em que a morte o espera.
O aluno respeitosamente se ajoelha ao lado do mestre. Em breve ele devrá ensinar os jovens do templo.

Com dificuldade o mestre pergunta:

- O que você aprendeu comigo, aluno?

O aluno humildemente responde:

- Tudo meu mestre. Tudo que sei aprendi contigo, desde que era apenas uma criança!

O rosto do velho mestre se mostra um tanto quanto decepcionado. Ele diz:

- Não aluno. Você não aprendeu nada comigo.

O aluno consternado responde:

- Você quer dizer que eu fui um mau aluno?

- Claro que não, se não fosse bom aluno, e se eu não o julgasse bom mestre, jamais te escolheria como meu sucessor. Mas o que estou a dizer é que não aprendeste comigo.

- Não compreendo mestre.

Segurando o braço do aluno o mestre responde:

- Receba minha última lição. Um mestre não pode ensinar. Ele pode só pedir que o seu aluno perceba que o que está dentro dele é maior do que ele pensava.

Em silêncio o aluno sai da sala, agora como mestre.

Sobre os Amigos

Quem gostar de postura boa
Vai agora ter que parar de ler,
Ou se decidir continuar
Vai ter então que me desculpar
Mas amigo não é coisa pra se guardar
Como já falava a canção
Mas amigo é coisa pra se levar
e pra se Mostrar
dentro e fora do coração

É não ter medo de parecer besta
e nem se preocupar com a besteira deles.
Agir ao natural, com ou sem roupa
Estar entre irmãos
De diferentes pais e mães.

É estar com amantes, colegas
Afetos, parceiros, cúmplices.

É rir e chorar quando der vontade.
É reclamar do que não te agrada.
É um comprometimento
Sem se comprometer.

Ser feliz depende de ter bons amigos
De preferência poucos.

É bom também ter aquela amiga
Que te troca um olhar
Em que se sente o prazer de flertar.
Aquela diferente, especial,
Que te faz sentir vivo,
Desejado e desejando.
Se possível for ter aquele momento
De consumar na carne
Aquele velho e bom desejo humano...

E sem vergonha, pois a vergonha sim é que é pecado.

Conversar até perder o fio da meada
Quando o sono ganhar a batalha
E depois acordar e tomar café
Falando da Xuxa e do Pelé,
Ou da metafísica da fé
E qualquer outro assunto
Que por mais besta que seja
Está entre amigos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

E aí?

Não estou aqui
Se estiver alguma coisa
Estou nem aí
nem lá.

Se querem saber,
estou onde eu quero
que é quase onde devo
mesmo quando tenho que ir.

Se quiser me seguir
vai chegar
onde não se é pra estar.

Então me deixa aqui
Onde eu não estou.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Sobre Dionísio e Apolo

Roupas no chão, cama desarrumada. Ele sobre a cama equanto o Robert Plant grita no rádio. O resto do vinho divide lugar com o cinzeiro cheio. O som do teclado divide o ar com as batidas da bateria. Um rompante criativo, uma possessão - pois é o que parece - o faz escrever com a velocidade dos seus pensamentos. Atos, personagens, lugares. Num instante tudo está sobre tela, no arquivo, no e-mail, na sala do produtor. Um último gole do vinho, um último trago no cigarro.

Terno e gravata. Cara de sério. Ar de superior. Entra da sala impecável, impecável como a sala. Sua fala é perfeita e o hálito é de menta. Até que os anos na faculdade lhe serviram de algo. O produtor é sinteticamente expansivo. Gestos medidos. Tudo no seu lugar. Ele senta em frente ao produtor e começa o discurso correto, ensaiado em casa. O produtor diz que gostou muito do texto e tudo mais.Sorrisos medidos, palavras medidas, drink recusado, contrato fechado.

É preciso adaptar a coisa toda. De novo caos, vinho e cigarros. Loucura, brigas e sexo. Alegria e choro. Drama. Revisão. Inspiração. Reescrever exige além da inspiração original, uma nova inspiração mais arrojada. Possessão, teclas e rock. Texto, arquivo, e-mail, aprovação.

Hora de pedir dinheiro, escolher ator, diretor, iluminador. Local, ingresso, cachê. Divulgação. revista, televisão. Dívida, empréstimo, problema. Gráficos e mais gráficos além das pesquisas e relatórios. E-mails, réplicas e tréplicas. Chuva, fogo, frio e calor. Estreia, release, coquetel, festa. Ensaio, ensaio, ensaio. Figurino, ensaio.

As cortinas se abrem e a sombra de tudo se esvai. Casa cheia e aplausos. Delírio, possessão de todos. Espetáculo, palmas, vinho e cigarro.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

No Ônibus




O ônibus passa perto do rapaz no chão, agora separado da moto que já está um tanto quanto distante.
Em pé uma mulher chorando fala ao telefone.
Que saberá o rapaz da dor do choro da mulher que nada sabe da dor do rapaz no chão?

O amigo ampara a cabeça do rapaz com a sua própria cabeça erguida procurando entre os prédios a ambulância que virá da rua.
O motorista guia a ambulância precisamente entre os carros numa pressa imprecisa.
Que saberá o motorista da procura do rapaz que nada sabe da pressa da ambulância?

As pessoas ao meu redor, passageiros cheios de curiosa compaixão, olham sem nada poder fazer. Apreciam o tétrico espetáculo de dor, choro e esperança.
A moça ao meu lado, sem dor, choro, esperança, curiosidade nem compaixão apenas dorme e o ônibus segue viagem.