terça-feira, 6 de maio de 2008

Na Janela


Era fim da tarde e ela tomou um banho demorado. Se arrumou como fazia todo dia e foi para a janela esperar. A notícia do último mensageiro tinha boas chances de estar correta.
Ela não estava sozinha nessa. Diversas mulheres aguardavam na porta de suas casas. Eles, os maridos, partiram em três grupos. O dela foi com os primeiros, pois era um dos mais fortes.
Os olhos cheios de esperança, esperaram. No horizonte os últimos raios de sol morriam quando ao longe se vê a nuvem de fumaça e o canto de vitória. O trote dos cavalos aos poucos vai aumentando. Os guerreiros, que na verdade são pastores, erguem orgulhosos os seus bastões.
Ela procura avistar seu querido no meio da nuvem de areia. Mas a bandeira que tremula é a do terceiro grupo. Ela tem ainda esperança. Ouve vindo das outras casas a alegria das outras mulheres. Elas pegam os bastões das mãos de seus maridos e honram com a dança a arma que os trouxe de volta vitoriosos. Ela se imagina dançando também. Ensaia alguns passos e dança sozinha em casa. Continua a dançar até ficar exausta, deita no chão e dorme. Ele não voltou hoje.
No dia seguinte repete o ritual. Os homens que chegaram no dia anterior disseram que talvez seu marido regresse com o segundo grupo que ficou desmontando as barracas. Mais uma vez ela se banha. Mais uma vez se arruma. Mais uma vez espera na janela. Já é noite alta mas ela não interrompe sua vigília. Quando seus olhos estão prestes a fechar ouve-se novamente a cantoria, mas dessa vez com menos ânimo. Acendem-se as tochas das casas e as mulheres, muitas das quais desarrumadas já, correm ao encontro da nuvem iluminada pelas tochas dos guerreiros. Na mão os bastões. Repetem-se os abraços e as danças. Felicidade no meio da noite. Mas ele não voltou dessa vez.
Ela passa agora um mês repetindo o mesmo ritual. Aguarda ansiosa todo dia na janela. Depois de algumas semanas, passa a dormir na porta da casa. Já não se arruma mais e nem se banha. A esperança vai se esvaindo até que numa manhã insone vê surgir ao longe novamente a nuvem, dessa vez sem cantoria. Poucos homens montados voltam carregando alguns bastões. Um deles desmonta, vai até a porta dela e deixa aos pés dela um bastão. O bastão do seu marido. Ele não voltará mais.
Ela pega o bastão, dança e finalmente dorme tranqüila.

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