quinta-feira, 17 de abril de 2008

É só tristeza e a melancolia...


Celso sofria de nada.

Todo dia era a mesma nadice na sua vida. Sempre a mesma cara de nada. Sempre o mesmo jeito ausente.

Ele já fora uma pessoa brilhante e cheia de vida. Mas agora ele tinha uma tristeza meio água-com-açúcar e um olhar longe que não passava dos seus pensamentos.

Volta e meia alguém perguntava "Pô Celso, que cara é essa?" e a resposta vinha do jeito que ele sempre fazia. Olhava pra pessoa como quem acordava de um sonho e dizia "nada não, é sério, não é nada".

O nada de Celso chegou a lhe custar o emprego de vendedor. Toda a paixão que antes vibrava quando ele atendia um cliente agora resumia-se a explicação do que o cliente perguntava.

Todos fuçaram sua vida e procuraram por todos os cantos o que seria esse "nada" que tanto havia mudado o jovem rapaz.

Um dia o seu irmão acompanhou escondido todos os passos de Celso durante o dia. Andou atrás dele até no banheiro sem ser visto. Até que espreitando no quarto dele, antes que dormisse e com uma vontade imensa de desistir da busca afirmando que o irmão tinha ficado louco se surpreendeu ao ver que o irmão tirou da fronha do travesseiro a foto da sua namoradinha de infância que casara há uns três anos.

Passou o dedo sobre a foto como quem faz um carinho e catarolou bem baixinho:

"Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai"

Nenhum comentário: