segunda-feira, 14 de abril de 2008

Conto de Um Café


-Mais um café!

A espera tem no fundo o silêncio incômodo.

Ela olha os outros clientes do bar e ele olha pro chão. Chega o café. Sem açúcar, do jeito que ele toma. Ele dá um gole e ela continua olhando em volta. Ele fixa os olhos no rosto dela e pergunta:

-Quando foi?

Ela olha pra ele. Estava esperando essa pergunta. Ela conhecia ele como ninguém.

-Ontém à tarde.

Ele sente um frio na barriga. Ele poderia ter evitado aquilo. Sempre se pode evitar.

-E por que? Não estávamos bem?

-Você sabe que eu me senti vazia. Às vezes você me faz sentir abandonada.

Ele desvia o olhar. As coisas não deviam fazer tanto sentido na hora imprópria. Ele não quer mais falar com ela. Olhando o padrão da tapeçaria pendurada na parede ele toma mais um gole do café.

-Você não quer mais me ver? - Ela pergunta.

-Eu não vou mais te ver. Possível que não me deixem mais te ver.

-Esses seus amigos sempre atrapalham tudo!

Ele suspira exalando raiva. Se fumasse fumaria um cigarro agora, mas ele parou. Toma mais um gole de café.

-Olha aqui - diz ela - eu acho isso ridículo. Você é ridículo. Eu sou dona da minha vida e faço o que eu quiser. Você tem mais alguma coisa pra falar comigo?

Ele levanta da mesa sem dizer nenhuma palavra. Dá cinco passos em direção da porta. Para e diz:

-Na verdade eu tenho.

Tira do bolso o revolver e dá dois tiros no peito dela. Volta à mesa e toma o resto do café. Deposita a arma do lado da cabeça dela e susurra no seu ouvido:

-Você me irrita!

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