quarta-feira, 30 de abril de 2008

Ossanha



- A felicidade dela vale a sua?

A figura sinistra cheirava a folhas na cabana improvisada no meio da floresta. Ela (ou ele) tinha a pele bem negra e se vestia com folhas e palhas. Só uma das suas pernas cor de ébano estava a mostra.

É claro que Carlos achava tudo aquilo muito estranho. No começo ele achou que era brincadeira. Aconteceu muito rápido. Primeiro os olhos de uma mulher. Depois as noites sem sono. Depois os sonhos… Daí ele em desespero começou a procurá-la de todas as formas possíveis.
Encontrou-a, mas apesar da vontade de tê-la, ele não tinha coragem de falar com ela. Procurou ajuda, procurou remédio, bebida, psicólogo e valium. Nada.
Daí confessou a seu amigo que não sabia mais o que fazer. Ele solicito lhe ensinou um antigo ritual. Ele deveria ir até a mata mais próxima, e lá, perto de uma árvore deveria esfregar duas folhas e dizer “Ewé Ô!”
Feito isto, um vento que levava as folhas o levou até uma cabana estranha.

- Como assim? – Perguntou Carlos.

- Ué, se o senhor acha que as coisas na vida não tem preço se engana muito. Eu sei, e a minha magia me fez sofrer porque deixou cego quem eu queria perto.

Mas Carlos não conseguia mais dormir, e achou que aquilo lhe traria a paz. Insistiu com a figura coberta de folhas.

- Olha, lhe dou qualquer coisa por isso! Quer dinheiro? Quer minha alma?

A criatura se pôs de pé. Só tinha uma perna e agilmente pegou três folhas do chão da cabana. Levou-as ao rosto de Carlos e disse “veja”.

Num primeiro instante Carlos se viu conversando com sua amada, se viu chorando e se viu sorrindo. Depois viu-se esquecendo e enfim encontrando um novo amor.

Num segundo momento viu a sua amada presa e vidrada nele. Por onde ia ela estava atrás dele. Se viu enjoando dela. Viu um novo amor. Viu ciúmes. Viu um crime. Viu sua morte. Viu a prisão dela.

- Eu acho que mudei de idéia. – gritou carlos.

- Tarde de mais meu filho. Agora é tarde. - Fez uma pausa e depois tocando na testa dele com um bastão de metal em forma de folha continuou - Pena… amor só é bom se doer…

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